Ontem, fui à feijoada da Portela, na quadra da escola que fica no bairro de Madureira, subúrbio carioca. Fora o calor e a desorganização urbana que impera no local, foi um programa ótimo, cheio de alegria, samba, feijoada (claro) e algumas reflexões.
Ao longo da caminho, que fiz de carro com três amigos da Tijuca ao destino final, conversamos sobre muita coisa: futebol, samba, mulher, etc. O caminho que fizemos foi um verdadeiro tour histórico-cultural da mais alta qualidade. Num país sério, esse trajeto seria considerado um "caminho espetacular da música". Vejam se estou errado:
Da Tijuca, pegamos a Boulevard 28 de setembro em Vila Isabel (alguém conhece Noel Rosa? Ah tá, só pra saber...). Posteriormente, pegamos um túnel com o mesmo nome do compositor e caimos na Rua 24 de maio e margeamos a linha do Trem, um equipamento extremamente característico do subúrbio carioca. Passamos pelos bairros do Jacaré, Méier, Engenho de Dentro, Quintino, Bento Ribeiro, Ricardo de Albuquerque, Cascadura e, enfim, Madureira. Chegando próximo a este último já víamos as as placas de sinalização indicado "Portela" e "Império Serrado".
Pelo caminho, além da linha do trem, vi também coretos seculares, pracinhas com crianças brincando no calor de 40 e poucos graus. Vi também buracos no asfalto e infrações de trânsito de mais variadas periculosidades.
Olhando para o alto, vi gatos de energia e pipas colorindo o céu. Dentro do carro (com o ar condicionado ligado, lógico), comentávamos sobre a importância do subúrbio carioca e sua "pacificação" com o advento das UPPs. As opiniões divergiam, mas isso seria um outro tópico a ser discutido.
Chegando lá na quadra da Portela, um calor sinistro, uma feijoada de qualidade e pessoas das mais variadas idades que se divertiam horrores. No palco, aqueles senhores com uma cultura popular do samba aflorando pela pele cantando músicas que homenageavam Clara Nunes. A crítica que faço é a desorganização que aquela região denota.
O planejamento urbanístico pensado para a Zona Sul do Rio deve ser o mesmo para a Zona Norte, Oeste e todo o subúrbio, lógico, cada uma com suas particularidades. Senti falta de uma valorização do espaço público daquela área, cuja responsabilidade seria da prefeitura do Rio. Aquilo ali era pra tá rodeado de turistas, assim como o Jongo da Serrinha (em Madureira também), o bairro de Vila Isabel, entre outros...
Voltando para casa, vi a cena que considero a mais emblemática do que é o subúrbio carioca: cadeiras de praia na rua, vizinhos conversando e um banquinho com cerveja em cima para fugir do calor (este último é opcional).
E hoje, um dia depois da minha visita, li a revista do Globo que na sua capa aborda como tema principal a importância do subúrbio carioca. E automaticamente fiz uma relação com o que eu vivi ontem.
O mais engraçado é que eu sempre vivi na Tijuca, bairro da Zona Norte que não é considerado subúrbio, mas um dos bairros mais tradicionais do Rio de Janeiro e talvez o mais tradicional da Zona Norte. Entretanto, sempre tive o privilégio de viver esse clima suburbano. Cadeiras na rua, vendedores na porta de casa vendendo pão, leite, vassoura, brincadeiras de rua, pipas no céu e tranquilidade imperando durante o dia.
E isso tudo me deu uma saudade da minha infância e um orgulho de ter vivido isso, diferente de outros que não tiveram essa oportunidade.
Como seria bom se revitalizassem o subúrbio. Porque revitalizar o povo suburbano não é necessário. Ele se retroalimenta.
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