domingo, 15 de abril de 2012

Jogos Olímpicos: união dos povos ou confirmação das desigualdades?

"O esporte é uma sociedade dentro da sociedade".

Esta é uma frase de Tommy Smith, ex-atleta americano, campeão olímpico nos 200m na Olimpíada de 68. Aproprio-me desta citação para debater algo que me intriga e me incomoda, porém nunca vi nada a respeito disso. Os Jogos Olímpicos é o evento mais importante e emblemático do esporte. Disso não há dúvidas! E seu objetivo é permitir que todos os países e povos de diferentes origens, etnias possam competir e se unirem, mostrando que é possível um mundo mais igual, saudável e amigável. A própria bandeira olímpica representa essa união de povos e raças, pois é formada por cinco anéis entrelaçados, representando os cinco continentes e suas cores. A paz, a amizade e o bom relacionamento entre os povos são os princípios dos jogos olímpicos.

Pois bem, na minha última postagem já havia questionado um pouco isso através do caso ocorrido com o próprio Smith na olimpíada do México em 68, onde ele fez um protesto junto com Joe Carlos, erguendo as mãos com os punho cerrados e usando uma luva preta. O gesto era a favor dos direitos humanos civis e contra o preconceito racial muito em voga naquela época (e porque não dizer ainda hoje...).

Enfim, o que quero divulgar aqui é uma comparação que faço entre duas tabelas. A primeira mostra o quadro geral de medalhas de todas as Olimpíadas. A segunda é o Índice de Gini, cálculo usado para medir a desigualdade social,  desenvolvido pelo estatístico italiano Corrado Gini, em 1912. Apresenta dados entre o número 0 e o número 1, onde zero corresponde a uma completa igualdade na renda (onde todos detêm a mesma renda per capta) e um que corresponde a uma completa desigualdade entre as rendas (onde um indivíduo, ou uma pequena parcela de uma população, detêm toda a renda e os demais nada têm).  


Tendo como base a tabela e o mapa acima, podemos perceber que os vinte países que mais ganharam medalhas na história dos Jogos Olímpicos possuem um índice de Gini abaixo de 0,50, o que corresponde uma desigualdade social baixa. A exceção é Cuba (de cinza) que não possui dados divulgados.

Vale destacar a presença das extintas Alemanha Oriental e a União Soviética (em azul), que, após o fim da Guerra Fria transformaram-se em Alemanha e Rússia. Juntamente com a China, considerada como a futura potência olímpica que em breve deverá ocupar a primeira colocação deste ranking, esses quatro países supracitados são de origem comunista, ideologia que utiliza(va) o esporte como propaganda do governo, disseminando sua disciplina e força pelos atletas.

Já o Brasil está muito abaixo dos vinte primeiros e com o pior índice de Gini (maior do que 0,60).

Podemos fazer uma relação com a obtenção de medalhas em Olimpíadas e a desigualdade social que temos atualmente. Analisando este evento através de uma perspectiva crítica, podemos verificar que ele apenas ratifica as desigualdades entre os países, embora o discurso dos Jogos seja completamente diferente.

O esporte atualmente está atrelado a investimentos econômicos altíssimos. Afinal, a preparação física de cada atleta requer suporte adequado, principalmente dos atletas de ponta, que buscam medalha efetivamente. Daí, a necessidade financeira enorme, para equipar centros de treinamento, materiais de alta tecnologia, nutrição, salários etc.

Porém, em tempos de Olimpíadas não se discute esta questão. Sempre os Jogos são vistos superficialmente, não se debatendo neles como seria possível colaborar para diminuir esta distância abissal. Fica a reflexão.