sábado, 12 de fevereiro de 2011

Volta às aulas

Primeiro dia de aula esta semana.

Logo após o dia de trabalho, fui pra casa pensando e refletindo sobre aquele primeiro dia, analisando o que deu certo e o que deu errado. Resumidamente, ele foi ótimo: as turmas são boas, animadas, educadas etc. Sempre tem um ou outro que você já percebe que vai te dar um pouco mais de trabalho. Normal, né?

O que mais me intrigou nesse primeiro dia é perceber que a Educação Física convive com um dos MAIORES RANÇOS DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA. Para quem acha que a disciplina é algo fácil a ser ministrado, está redondamente enganado. Embora seja a matéria que os alunos achem a mais divertida e a mais prazerosa, ela convive com um nó extremamente sério e de difícil resolução.

Eu já sabia que a disciplina possuía entraves, só que desta vez percebi que não se tratava de uma simples dificuldade, mas, sim, tratava-se de uma enorme omissão histórica.

Primeiramente, imaginava começar o meu ano letivo indo até a sala de cada turma e iniciar a minha aula ali, me apresentando, dando boas-vindas a possíveis alunos novos, explicando o que faríamos aquele ano etc. Porém, fui surpreendido com os alunos correndo direto para a quadra da escola, procurando o professor (que era eu).

Em seguida, antes mesmo de me apresentar e acalmá-los, pedindo para que sentassem na arquibancada do campo do colégio, um aluno logo disse:

"Vai ser futebol hoje?"

Outro completou:
"Qual vai ser o time?"

E pra finalizar, o toque feminino:
"Vai ter queimado?"

Confesso que não esperava isso deles. Sei que os alunos são fissurados em futebol e queimado na escola, mas não imaginava isso antes mesmo de eu dizer "Bom dia". Ingênuo eu, não?

Taí um dos grandes ranços da escola!

Embora todos gostem muito de Educação Física, todos só querem futebol e/ou queimado. E o pior: futebol só pra meninos e queimado só para meninas.

Os motivos para esta configuração são vários. Após essa reflexão desta semana, chego a 3 justificativas e gostaria de dividir com todos. Vejamos:

1) A época Esportivista a partir da década de 70, utilizada pelo período militar do nosso país, onde o Brasil seria uma "potência mundial" e os atletas são os "soldados da nação".
        Só que o que mais me intriga é que tudo nessa vida tem fases, porém esta fase NÃO ACABA!!! Isso me leva a crer na segunda justificativa.

2) A disseminação da cultura do esporte através da mídia, ou melhor, a MONOCULTURA, já que os grandes veículos de massa so transmitem futebol. Com exceção das épocas de Olimpíada ou outro campeonato mundial (como o vôlei) e canais a cabo especializados em esporte.
        Além disso, as marcas e o apelo pelo o melhor produto de qualidade, associados a esportistas famosos, atrelam esta monocultura ao consumo, o que tende a aproximar o expectador do espetáculo.

3) Esse último ponto é o que mais me incomoda. Os alunos chegam até você "viciados" por essa monocultura que o professor de educação física alimenta ainda mais quando aplica apenas esta tal monocultura que destrói a Educação Física. Como os meus alunos vão se interessar pelo que eu quero apresentar a eles se eles só conhecem o futebol/queimado? Isso faz com que o meu trabalho seja mais difícil. Não que seja impossível, fazê-los gostar, porém o caminho torna-se mais tortuoso.

Não ache você que eu odeio futebol. Pelo contrário, eu amo! Sou vascaíno de coração, acompanho jogos etc. Porém, não sou refém dele. Tenho criticidade ao falar e jogar ele. E é isso que busco passar aos alunos.

Embora, todos amem a Educação Física, fazer algo inovador é motivo de desgosto, discussão e reclamação. Daí tem que surgir aquele professor "show man" para motivar os alunos àquela atividade "diferente".

Ah, sobre a minha primeira aula. Sabe o que eu fiz? Passei três vídeos na sala. Preciso dizer se eles gostaram? Lógico que não, né? Até eu começar a passar os vídeos....

Depois dos vídeos, de um grupo de 30 que não gostaram da ideia, passaram a ser 18. Após a apresentação do que teríamos nas aulas, o grupo se reduziu a 15.

Enfim, não consegui modificar todos, mas cheguei à METADE. Grande avanço, não?

Passo abaixo os vídeos para quem quiser usá-los.

Vamos à luta e pensem nisso.



domingo, 6 de fevereiro de 2011

Subúrbio carioca

Ontem, fui à feijoada da Portela, na quadra da escola que fica no bairro de Madureira, subúrbio carioca. Fora o calor e a desorganização urbana que impera no local, foi um programa ótimo, cheio de alegria, samba, feijoada (claro) e algumas reflexões.

Ao longo da caminho, que fiz de carro com três amigos da Tijuca ao destino final, conversamos sobre muita coisa: futebol, samba, mulher, etc. O caminho que fizemos foi um verdadeiro tour histórico-cultural da mais alta qualidade. Num país sério, esse trajeto seria considerado um "caminho espetacular da música". Vejam se estou errado:

Da Tijuca, pegamos a Boulevard 28 de setembro em Vila Isabel (alguém conhece Noel Rosa? Ah tá, só pra saber...). Posteriormente, pegamos um túnel com o mesmo nome do compositor e caimos na Rua 24 de maio e margeamos a linha do Trem, um equipamento extremamente característico do subúrbio carioca. Passamos pelos bairros do Jacaré, Méier, Engenho de Dentro, Quintino, Bento Ribeiro, Ricardo de Albuquerque, Cascadura e, enfim, Madureira. Chegando próximo a este último já víamos as as placas de sinalização indicado "Portela" e "Império Serrado".

Pelo caminho, além da linha do trem, vi também coretos seculares, pracinhas com crianças brincando no calor de 40 e poucos graus. Vi também buracos no asfalto e infrações de trânsito de mais variadas periculosidades.

Olhando para o alto, vi gatos de energia e pipas colorindo o céu. Dentro do carro (com o ar condicionado ligado, lógico), comentávamos sobre a importância do subúrbio carioca e sua "pacificação" com o advento das UPPs. As opiniões divergiam, mas isso seria um outro tópico a ser discutido.

Chegando lá na quadra da Portela, um calor sinistro, uma feijoada de qualidade e pessoas das mais variadas idades que se divertiam horrores. No palco, aqueles senhores com uma cultura popular do samba aflorando pela pele cantando músicas que homenageavam Clara Nunes. A crítica que faço é a desorganização que aquela região denota.

O planejamento urbanístico pensado para a Zona Sul do Rio deve ser o mesmo para a Zona Norte, Oeste e todo o subúrbio, lógico, cada uma com suas particularidades. Senti falta de uma valorização do espaço público daquela área, cuja responsabilidade seria da prefeitura do Rio. Aquilo ali era pra tá rodeado de turistas, assim como o Jongo da Serrinha (em Madureira também), o bairro de Vila Isabel, entre outros...

Voltando para casa, vi a cena que considero a mais emblemática do que é o subúrbio carioca: cadeiras de praia na rua, vizinhos conversando e um banquinho com cerveja em cima para fugir do calor (este último é opcional).

E hoje, um dia depois da minha visita, li a revista do Globo que na sua capa aborda como tema principal a importância do subúrbio carioca. E automaticamente fiz uma relação com o que eu vivi ontem.

O mais engraçado é que eu sempre vivi na Tijuca, bairro da Zona Norte que não é considerado subúrbio, mas um dos bairros mais tradicionais do Rio de Janeiro e talvez o mais tradicional da Zona Norte. Entretanto, sempre tive o privilégio de viver esse clima suburbano. Cadeiras na rua, vendedores na porta de casa vendendo pão, leite, vassoura, brincadeiras de rua, pipas no céu e tranquilidade imperando durante o dia.

E isso tudo me deu uma saudade da minha infância e um orgulho de ter vivido isso, diferente de outros que não tiveram essa oportunidade.

Como seria bom se revitalizassem o subúrbio. Porque revitalizar o povo suburbano não é necessário. Ele se retroalimenta.